segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Mote Modesto

Este meu mote modesto
de parca epifania
É fruto futuro, que um dia
Espera a voz de algum verso.

Sinto-o arder em protesto
No ócio de meu silencio:
- Este meu mote, tão dócil,
Reclama do esquecimento.

Calma, meu mote, às suas queixas
Todos os poetas ouvirão
E com a mais certa certeza
Hão de te darem razão.

Mas pense bem, “motezinho”,
Pense no seu futuro
Pense no seu caminho
Quando um mote maduro

E pode apostar, eu atesto,
Que a mais triste das sinas
Para um mote modesto
é acabar nas minhas rimas!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

não há passo
que não conforme
o seu golpe
e aponte
o caminho de
sua passagem

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Reclames

Aponte certo
o desejo:
-Não ceda!
Que seja
sede,
fome ou
vontade de
fuder.

Aponte-o certo,
bem firme,
para o centro
de você.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Acerola Amarela (para Bernardinho)

acelera
acerola
amarela
que o tempo
não espera
acelera
sem demora

já é hora
de vermelha
acerola

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Céu-abismo

Dentro do gratuito
gravemente inútil
sibilar das coisas
compor um céu
vira-lo ao avesso
e novamente tê-lo
imensamente
abismo

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Porto não há em que meu coração pouse.
Só o pautado branco
Diante do qual ergo um monumento.
Palavras, como pombos, vêm tocar a superfície lisa
E manchá-la com a pecha do engano.
Palavras não sabem encontrar saída,
Apenas escavam, escrutinam,
Sibilando a boca seca
O ritual inútil.

No escuro, procuramos a nossa face fugidia
INDEFINIDAMENTE

terça-feira, 29 de julho de 2008

Um Verso

Um verso meu
Avesso ao Sol

Um verso só
Só um, inverso.

Um verso sem
Ter mais ninguém

Um verso-nó
Um verso-pó

Um verso.

Um verso assim
Goteja e, ao fim,
Me resto só.

Sem verso.